Indústria da construção vai do otimismo ao mesmo patamar de julho de 2020

Dados apresentados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) demonstram impacto das dificuldades impostas pelo desabastecimento de materiais e pela alta dos prec¸os. Estimativa para o PIB do setor em 2021 caiu de 4% para 2,5%
Brasília, 29/04/2021 – Os bons resultados alcançados pela indústria da construção no segundo semestre de 2020 na~o se mantiveram no 1º trimestre deste ano. De janeiro a marc¸o de 2021, o i´ndice que mede a situac¸a~o financeira das empresas do setor recuou 5,3 pontos em relac¸a~o ao u´ltimo trimestre de 2020, caindo de 47,2 para 41,9 (número abaixo de sua média histórica, de 44 pontos). O índice é da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). As informações fazem parte do estudo Desempenho Econômico da Indústria da Construção do 1º trimestre de 2021, realizado pela CBIC e apresentado durante evento online nesta quinta-feira (29).
De acordo com o estudo da CBIC e com os dados da CNI, o ni´vel de atividade da construc¸a~o comec¸ou a perder intensidade a partir do último mês de dezembro e o setor encerrou o 1º trimestre de 2021 em queda.O indicador de atividade em marc¸o deste ano foi de 44,9 pontos, 6,5 pontos abaixo do observado em agosto de 2020, quando a construc¸a~o comec¸ou a fortalecer o seu ritmo apo´s a queda observada nos dois primeiros meses da pandemia. Com isso, os resultados mais positivos observados no peri´odo de agosto a novembro de 2020 na~o se sustentaram. Em marc¸o de 2021, o setor registrou o menor patamar de atividades desde junho de 2020. Pelo segundo trimestre consecutivo, os empresa´rios da construção apontam que o maior problema que eles enfrentam e´ a falta ou o alto custo da mate´ria-prima. No 1º trimestre de 2021, essa foi a dificuldade assinalada por 57,1% deles.
De uma forma geral, os números comprovam que o setor retornou para os mesmos patamares de julho do ano passado, quando ainda não havia uma completa percepção de que o mercado imobiliário teria excelentes resultados no segundo semestre de 2020. “A retomada veio em V, mas hoje não temos suprimento necessário para atender à demanda. Por isso estamos defendendo trabalhar com o mercado exterior, ao menos para suprir essa carência atual”, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins.
Falta de previsibilidade
O setor imobiliário encerrou 2020 com uma queda de 17,8% no número de lançamentos, na comparação com 2019. No mesmo período, o número de imóveis novos vendidos subiu 9,8%. Com essesresultados, mais a redução de 12,3% na oferta final de imóveis novos, a percepção era de que em 2021 os novos lançamentos apresentariam forte expansão. Porém agora existem dúvidasse isso realmente acontecerá, em função do desabastecimento e do aumento dos preços dos insumos, que provocam incertezas sobre o futuro. O INCC-Materiais e Equipamentos, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostrou que a alta de preços acumulada no período de 12 meses encerrados em março deste ano (28,13%) é a maior para o período desde que o índice começou a ser disponibilizado, em 1998.
Expectativas e projeções
De acordo com a Sondagem Indústria da Construção, os empresa´rios do setor ainda possuem expectativas positivas para as suas atividades nos pro´ximos seis meses. No entanto, as perspectivas otimistas ve^m perdendo intensidade desde janeiro e hoje esta~o no menor patamar desde julho do ano passado. A indústria da construção iniciou o ano com expectativa de crescer 4% em 2021, o que corresponderia à sua maior alta desde 2013. Com o cenário imposto pela falta de insumos, a estimativa do setor foi alterada para 2,5%.
Para a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, esse número ainda pode ser considerado otimista. Além do problema que o setor enfrenta com a questão da falta de materiais e do aumento de preços, ela diz que ainda é preciso considerar as preocupações com a instabilidade macroeconômica, a desvalorização cambial, a inflação elevada, o avanço da pandemia e a vacinac¸a~o ainda em ritmo lento. “Tambe´m não se pode deixar de ressaltar que o menor ritmo da construção civil significa muito mais do que impacto econômico, significa impacto social”, disse. De acordo com a CBIC, caso se confirme a paralisação das obras da faixa 1 do Casa Verde e Amarela, em função do corte nas verbas destinadas ao programa no Orçamento de 2021, essa projeção para o PIB poderá ser ainda mais reduzida.
Emprego
A construção, que nos dois primeiros meses de 2021 criou, na me´dia, 44 mil novas vagas com carteira assinada por mês, em marc¸o reduziu esse patamar para cerca de 25 mil vagas, conforme dados divulgados ontem (28) pelo Ministe´rio da Economia. Os números mostram que o setor reduziu o ritmo de suas contratac¸o~es e aumentou o de demisso~es. Esse resultado e´ justificado pela reduc¸a~o do ni´vel de atividades do setor e e´ mais um reflexo do desabastecimento e da alta nos prec¸os dos insumos.
Fonte: CBIC